domingo, 25 de setembro de 2011

COMENTANDO A SOLIDÃO

Assim como o amor, a solidão é um assunto que está na ordem do dia de muitas pessoas. Não que estes dois sentimentos andem de mãos dadas, mas quando alguém fala em solidão, sempre há o componente amor fazendo pano de fundo para as suas palavras. 

Quando uma pessoa afirma estar solitária, somos conduzidos, geralmente, à idéia de que essa pessoa está se sentindo fisicamente só. É possível que sim. Não fomos acostumados a estar a sós conosco. É muito bom ter companhia. Mas nem sempre estar acompanhado significa não se sentir só.

Quem já esteve no meio de uma aglomeração ou vive nas grandes metrópoles sabe o que significa a "solidão das multidões". Rostos desconhecidos, sem aquele sorriso e sem aquele olhar de reconhecimento que expressam calor humano, cada qual encerrado em seu próprio mundo. Tanta gente ao seu redor e é como se estivesse sozinho.

Muitos casais já tiveram a experiência da solidão a dois. É comum encontrarmos pessoas que afirmam terem medo de ficar sós e buscam um relacionamento para preencher os seus vazios. Correm o risco de sentir uma solidão ainda maior. Como afirma o Dr. Antonio Carlos Alves de Araújo, "O desejo de uma romantização acentuada e infantilizada dentro de um relacionamento, sempre representa uma fuga da reflexão de que o mesmo pode acarretar uma intensa solidão a dois."
Embora fisicamente juntos, sentem-se solitários. Não há aquele estado de ser presente um para o outro, que estabelece a ponte para a comunhão. Falta-lhes intimidade. O vazio que se forma é o que, comumente, é chamado de solidão.

Mas o conceito de solidão é mais amplo e tem a ver com a posição existencial assumida pelo indivíduo. Como acontece com os sentimentos, não há palavras que definam, exatamente, a solidão. Uma das definições que, a meu ver, mais se aproximam da realidade é esta: "Solidão não é simplesmente estar só, é sentir-se só." (Craig, 1980 - Pág. 29) Como vimos, a proximidade com outra pessoa não é garantia para que o vazio existencial seja preenchido. A presença do outro é importante para estabelecer uma relação de partilha, de troca de experiências, de aconchego mútuo, mas não é condição fundamental para minimizar a solidão.

Somos seres naturalmente solitários. “A experiência de cada um de nós é única. O nascimento é uma experiência única, pois ninguém nasce pelo outro. Da mesma forma que a morte é uma experiência única, pois ninguém morre pelo outro. E a vida inteira, cada momento, cada segundo da existência, é uma experiência única pois ninguém vive pelo outro.” (Do livro “Solidão e Liberdade” do psicólogo Jadir Lessa) A consciência destas verdades é fundamental para compreender a solidão e a aceitar como condição inerente a própria existência.

Quando não é compreendida, essa condição de solitude faz com que as pessoas busquem fora de si mesmas as compensações para preencher os seus vazios. Estabelecem relacionamentos amorosos, mergulham no trabalho ou buscam diversão, como se dependessem dos outros as razões para a sua própria vida. Mas não há como escapar dos momentos em que estão a sós com elas mesmas. É nestes momentos que se encontram com as suas verdades e se estiverem ausentes de si mesmas sentirão o peso da solidão.

Este é um dos bons motivos da solidão: o encontro com as nossas verdades e a oportunidade de sermos presença em nós. Despidos diante de nós mesmos, encontramos um tempo só nosso, essencial para a descoberta pessoal e para o cultivo do potencial individual. As grandes e pequenas decisões, o crescimento interior, o encontro com a espiritualidade são ações que se processam dentro do espaço da nossa solidão. Pintar uma tela, compor e executar uma peça musical, fazer uma prece, ler e escrever estão, também, dentro desse espaço. Os que escrevem, por exemplo, podem comprovar os mecanismos benéficos da solidão. Escrever, seja um livro, um artigo, um poema ou mesmo um simples bilhete é um ato muito solitário. E quanta beleza é criada no silêncio da solidão!

Não pretendo fazer uma apologia ao isolamento que, ao contrário do que se pensa, é o oposto da solidão. É bom, necessário e saudável desfrutar da companhia de outras pessoas, interagir com elas, partilhar experiências, experimentar a troca de calor humano. O que precisa ser compreendido é que este estado de solitude é inerente à condição humana. O que é preciso saber é que não está nos outros, mas dentro de cada um de nós, o brilho, o encanto e a razão de ser da nossa vida. O que é preciso aprender é a ser presença em si mesmo, para que se possa valorizar a própria individualidade e, desta forma, desfrutar dos benefícios equivalentes da solidão.
Lêda Yara Motta Mello
Terapeuta Holística

= = =

Nenhum comentário:

Postar um comentário